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Peritonite em cães: como identificar e manejar a inflamação

● Texto originalmente publicado no Blog do Secad, em julho de 2020

Em cães, a inflamação do peritônio (peritonite) costuma ser decorrente de complicações em cirurgias abdominais ou de trauma abdominal fechado. Sua classificação é variável em relação à origem, ao grau de contaminação e à extensão. Se não for tratada em tempo, a patologia possui uma taxa de mortalidade alta.

Confira, a seguir, as principais medidas a serem tomadas diante da suspeita da doença, os exames que podem auxiliar o médico veterinário no diagnóstico e o tratamento ideal para o restabelecimento do animal:

Tipos e causas

A peritonite em cães pode ser primária ou secundária, aguda ou crônica e localizada ou generalizada. Casos primários são incomuns, sendo causados por uma inflamação direta a partir da disseminação de micro-organismos por via hematógena ou linfática.

Já a peritonite secundária é mais frequente, e apresenta-se de diferentes formas:

Peritonite asséptica: causada pelo extravasamento de urina ou bile na cavidade abdominal (química) ou pela irritação dos tecidos devido a gazes ou outros corpos esquecidos em procedimentos cirúrgicos anteriores (mecânica).

Peritonite séptica: origina-se a partir da introdução de micro-organismos na cavidade peritoneal, através de ferimentos penetrantes, lesões induzidas cirurgicamente ou perfuração do intestino.

Peritonite mista: é a evolução de uma peritonite mecânica para uma peritonite séptica, após uma contaminação bacteriana secundária.

A doença também pode ser localizada ou generalizada, tendo um melhor prognóstico na primeira alternativa.

Sintomas e diagnóstico

De acordo com estudos conduzidos na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), cães com peritonite apresentam sintomas como febre, distensão e aumento abdominal, vômitos, perda de apetite e diarreia. O quadro é doloroso e costuma deixar o animal letárgico.

Além das manifestações físicas, a doença tende a levar ao comprometimento da perfusão tecidual, acidose metabólica, sepse, distúrbios de coagulação e, em casos graves, insuficiência múltipla de órgãos.

Para realizar o diagnóstico, o médico veterinário deve partir da anamnese e seguir para exames de imagem, solicitando radiografias da cavidade abdominal. Caso a suspeita se confirme, as imagens evidenciarão radiopacidade difusa ou localizada, mostrando partículas oscilantes no líquido abdominal, com ou sem linhas de cauda (tags) e de fibrina (hiperecoicas). Além disso, a superfície serosa dos órgãos adjacentes ainda pode mostrar contorno irregular.

A avaliação do lavado peritoneal auxiliará a detectar a presença de sangue e as proteínas totais. Também é interessante realizar aspiração para análise citológica e bioquímica. A complementação desses exames permitirá realizar o diagnóstico diferencial.

Tratamento da peritonite em cães

O tratamento indicado dependerá do tipo de peritonite e da gravidade de cada caso. A resposta principal do médico veterinário deve ser estabilizar as constantes fisiológicas do animal e corrigir a causa primária, o que normalmente é feito por meio de antibióticos de efeito amplo. O profissional deverá considerar, ainda, suporte nutricional enteral, fluidoterapia e analgésicos como butorfanol (0,4mg por quilo) a fim de aliviar a dor.

Intervenções cirúrgicas podem ser necessárias em casos de acúmulo de líquidos na região. A drenagem e a lavagem da cavidade abdominal são alternativas. Não há maneiras de prevenir a peritonite, mas a agilidade no diagnóstico e na intervenção podem ser decisivos para o prognóstico.