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Conheça os riscos da prescrição indiscriminada dos benzodiazepínicos

● Texto originalmente publicado no Blog do Secad, em agosto de 2020

Benzodiazepínicos estão entre os medicamentos mais receitados no mundo. Utilizados no tratamento de transtornos de ansiedade, humor e sono, além de condições relacionadas ao sistema nervoso central, esses fármacos são conhecidos pela eficácia e ação rápida. Entretanto, carregam também a fama de apresentarem diversos efeitos colaterais e elevado risco de adição.

Mesmo assim, a prescrição indiscriminada dessa classe de medicamentos continua aumentando. Uma pesquisa divulgada em janeiro pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos evidenciou que, em um período de dois anos, foram feitas mais de 65 milhões de recomendações médicas dos benzodiazepínicos no país.

Há outro fator de preocupação que vai além do aumento no consumo: os benzodiazepínicos têm sido frequentemente associados aos opióides, outra classe de depressora do sistema nervoso central, prescrita para redução da dor. Juntas, essas substâncias contribuem com a elevação do número de overdoses nos Estados Unidos nos últimos anos — e a responsabilidade não é apenas dos pacientes.

Resultados alarmantes sobre benzodiazepínicos

O estudo americano analisou dados da Assistência Nacional Médica Ambulatorial entre 2014 a 2016 para entender o padrão de uso dos benzodiazepínicos. A cada 100 adultos atendidos na atenção primária, 27 receberam prescrições dos fármacos. Desse grupo, dez ainda foram orientados a utilizá-los em combinação com opióides.

Essas recomendações foram feitas, principalmente, para pessoas com diagnóstico primário de transtorno mental. A estimativa preocupa, uma vez que pacientes com essas características estão mais sujeitos ao uso inadequado dos medicamentos.

A pesquisa também apontou que o índice de pessoas consumindo benzodiazepínicos e opióides simultaneamente saltou de 0,5% em 2003 para mais de 2% em 2015 — um claro sinal de que os médicos têm subestimado os efeitos das interações medicamentosas.

Os pesquisadores ainda identificaram que os idosos são a faixa etária que mais utiliza os medicamentos, indo na direção contrária à recomendação. Afinal, idosos são mais sujeitos a situações de confusão mental, risco de quedas e desenvolvimento de vício.

Para prescrever fármacos com segurança, conheça a Atualização Profissional desenvolvida em parceria com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

O problema das overdoses

Outro estudo publicado no periódico da Associação Americana de Saúde Pública, em 2016, apontou que mais de 22 mil adultos morreram de overdose nos Estados Unidos em 2013. Dessas mortes, 30% foram causadas por benzodiazepínicos.

Em entrevista à CNN sobre o tema, a psicóloga e professora da Universidade de Stanford, Keith Humphreys, disse que esses números são reflexos da pouca atenção social que essas drogas recebem. “O vício [em benzodiazepínicos] é notado com muito mais dificuldade do que o álcool ou a heroína, por exemplo. Não tem tanto impacto nas pessoas ao redor.”

Segundo a psicóloga, os usuários passam a necessitar cada vez mais da sensação de relaxamento promovida pelos fármacos. E como são obtidos através de um médico e por vias legais, as muitos acreditam que não existem riscos.

Fatores de influência e estratégias de controle

A redução dos casos de overdose está diretamente ligada a um melhor controle das prescrições e da compra dos fármacos. Até o momento, os principais fatores associados ao grande consumo dos benzodiazepínicos são a má indicação clínica, a falta de conscientização dos médicos, farmacêuticos e pacientes sobre os riscos, e a falta de debates sociais sobre as drogas lícitas.

Nos Estados Unidos, sistemas como o da Veterans Health Administration permitem aos médicos e profissionais da saúde que acessem um banco de dados com informações sobre consultas recentes, prescrições e nome de quem fez o atendimento. Ferramentas assim podem auxiliar a reduzir interações medicamentosas, além de minimizar a obtenção ilegal de fármacos e troca entre pacientes.